segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Dizem por aí...
(Daniel Oliveira)
Dizem, não sei. O que sei é que dizem. Que a beleza das flores está na sua dor e não em sua aparência física; que os sonhos são debalde; que o ar está gostoso; que não se pode andar descalço; que é bom ser sozinho; que a vida é doce; que o rio está limpo; que os bichos têm liberdade; que o mar é infinito; que a fé ainda não morreu; que já não existem poetas nem versos de amor; que a paixão ardente esfriou; que o seresteiro perdeu a inspiração; que não existem guerras; que o amor materno se esvaiu; que a canção perdeu o seu sentido; que a paz está é na turbulência; que Deus se perdeu no espaço; que as máquinas é que mandam; que as palavras fugiram; que o que resta é ficar estático; que olhar impassível é o remédio eficaz; que o santo perdeu a virgindade; que o pudor evoluiu; que a esperança desceu pelo ralo; que não adianta, anjo, que tudo, absolutamente tudo, é virtual; que sonho é utopia enganosa; que sentir é o mesmo que não sentir; que dormir é perigoso; que cantar faz mal para o coração; que ler machuca os olhos; que caminhar pelo jardim dos desesperados faz arder a alma; que se iludir um pouquinho é desastre para a vontade de seguir avante; que pescar não traz tranqüilidade ao espírito; que gritar já não produz eco; que lutar a favor do oprimido é perda de tempo; que dizer palavras luminosas de sentido provoca câncer na garganta; que poder é não querer estar aqui e ali ao mesmo tempo; que chover não traz alento; que o sol não nos torrará um dia a cútis; que não estamos sozinhos no espaço; que não faz diferença estar e ser; que fazer é estar deitado em uma rede, deixando o tempo se perder no próprio tempo; que os anjos estão de férias; que a união se desfacelou no seio familiar; que o tapa e a faca dão para resolver algumas desavenças nossas; que o ódio afasta o perigo; que a natureza se regenera por si mesma; que o dinheiro é o rei de nossas querências; que é assim mesmo a vida; que é assim mesmo esse negócio de amar...


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